
Era sexta-feira. Aquelas sextas-feira onde você se sente esgotada. Levantei-me, sem grandes espectativas para o dia que se iniciava. Fazia calor, e estava com uma leve dor de garganta. Estava sozinha em casa, e tinha muito o que fazer. Comecei então, tomando um copo de leite, e logo após tirei o lixo para fora. Poderia me parecer um dia qualquer, mas, realmente, eu não tinha nada em mente a não ser as tarefas que tinham que ser realizadas. Limpei a casa, lavei as vasilhas, e tudo era cansativo. Afinal era sexta-feira, e após uma longa semana de trabalho e estudo, eu estava então, muito cansada, querendo que o chegasse logo a noite, para que assim, eu pudesse descansar um pouco. Mas ainda não era tudo. Eu faço estágio em um Asilo da cidade, e eu teria que ir, mais um dia lá. Ao chegar, estava silencioso, como que se faltasse algo, porém, deixei de lado. Entrei em um dos quartos masculinos, e logo, um senhor, de aparentemente 50 anos me chamou incessantemente. Já havia o visto outras vezes, mas nunca tinha conversado com ele. Ao me aproximar da cama, já notei que ele não andava, pois tinha uma grave deficência nos membros inferiores e na mão direita. Percebi então que ele possuía uma grave afasia, o que dificultava muito a comunicação. Porém, o que mais me chamou a atenção foi uma porção de carrinhos e uma bíblia que estava sob a cama. Enfim, cheguei, um pouco apreensiva, pois era a primeira vez que ía ao encontro dele. Fui com um grande sorriso, e saudando-o com um bem humorado OI, talvez, o mais bem humorado que dera durante o dia. Ele retribuiu meu cumprimento estendendo-me a mão, e susurrando algo, que entendi que fosse um OI também. Ele pareceu-me um tanto quanto agitado, pois não parava de se mecher, como se estivesse feliz por eu estar ali, ao lado da cama. Ele então, apontou o dedo para os carrinhos na cama, e pegou um para mim. Eu olhei atentamente para aqueles brinquedos e na forma como ele me mostrava aqueles carrinhos. Sem que eu percebesse, fui contagiada por um sentimento bom, o que me permitiu me soltar mais, e a também brincar com os carrinhos dele. O senhor parecia-me muito feliz, como se tivesse com o coração cheio de felicidade. Após tentativas, consegui entender algo que ele dizia. Com muita dificuldade ele me perguntou se eu traria para ele outro carrinho, e eu logo respondi que sim. Talvez, pelo esquecimento, me perguntou isso várias vezes, e também, se estávamos no Natal ! Então, disse que já estávamos quase chegando no Natal, e como uma criança, os olhos daquele senhor brilharam, e, como a magia natalina, ele disse: "Papai Noel","Papai Noel", de barba grande! Por um instante, calei-me diante de todos aqueles acontecimentos. E vendo como aqueles olhos cintilavam de alegria, ao brincar com os carrinhos, e a profundidade daquele me momento, me levou à uma reflexão. Eu, cansada de trabalhar e estudar, estava cabisbaixa, deixando momentos passarem, enquanto aquele senhor, com olhos de criança, entravado na cama, vivia feliz, apenas com a visita de alguem, ao mostrar seus brinquedos, e mesmo não sabendo ler, tinha uma bíblia, em sinal de que, apesar de não andar, falar e entender, ele ainda assim, tinha fé para prosseguir a vida. Nossa vida diária é cheia de momentos, que não damos conta, e os deixamos passar, sem dar o devido valor, e quando nos deparamos com um situação assim, vemos o quanto somos ingratos com a vida, ao reclamarmos tanto, de coisas pequenas, e a magia dos pequenos momentos se esvaem pelo ar. Assim, antes que uma lágrima vertesse de meus olhos, despertei-me novamente, agradecendo aquela criança, em silêncio, por ter me lembrado que desistir não é viver.!
Manu Müller (fato real)
Manu Müller (fato real)
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